Uma aventura de faturas, emails e folhas de excel


Como a grande maioria da população portuguesa, apenas me preocupei com a escolha do fornecedor de eletricidade e gás no momento que mudei de casa! E quando me comecei a debruçar sobre o tema, sem dar por ela, meti-me num buraco de coelho e só parei quando cheguei ao país das (des)maravilhas…

Usando o Google, comecei por pesquisar as principais ofertas dos suspeitos do costume (EDP, Galp, Endesa, etc.) e logo de imediato comecei a perceber que os vários descontos oferecidos são na realidade uma falácia total!
Mal se acede a cada um dos portais dos fornecedores, apenas se vê, em letras garrafais, descontos de 5%, 10%, 15%... mas o que nenhum refere é os valores sobre os quais os descontos são aplicados.

No início, sendo algo ingénuo, comecei por pensar que os descontos se aplicavam, de forma idêntica, sobre os preços de referência publicados pela entidade reguladores do mercado – a ERSE (www.erse.pt).



Como estava errado! Na realidade, cada fornecedor tem a sua lista de preços base, a qual pode mudar a qualquer momento (um tópico a falar daqui a pouco). Ou seja, um tarifário de um fornecedor com 10% de desconto, quer seja no termo fixo ou na energia, pode ficar bem mais caro que um tarifário sem desconto de outro fornecedor.
Sendo assim, resolvi dedicar um pouco (que acabou por se tornar em longas horas) mais de tempo ao assunto.

A primeira dificuldade, foi encontrar uma base de comparação, a qual foi resolvida através do acesso ao portal da ERSE, em particular no simulador de preços disponibilizado.

Para usar o simulador da ERSE ou nos baseamos em “clientes tipificados” ou, se quisermos verificar qual é o melhor tarifário para o nosso caso, temos de arregaçar as mangas, abrir as faturas de eletricidade e gás, e começar a esmiuçar toda a informação (que é muito extensa) e tentar tirar algum sentido de tudo aquilo.

E foi então que o processo já longo, se arrastou ainda mais, pois verifiquei que não é nada fácil saber quais os consumos mensais, nos diferentes períodos horários, e muito menos o valor que se paga por kWh numa fatura da EDP.

Assim que abri a fatura, deparei-me com esta tabela: 


Afinal, qual é o valor que pago por kWh? Como é possível o valor descer num dia e voltar a subir 17 dias depois?

Bem, após algumas suposições e de muita investigação, acabei por seguir o conselho da ERSE, e aderir, ao que pensava eu, ser o tarifário mais barato do mercado: o GoldEnergy, com descontos para associados da ACP. E com este passo estava eu a contar que tinha acabado de poupar 150 Euros por ano, o suficiente para me pagar uma estadia de um fim-de-semana no Hotel H2O, para esquecer toda esta confusão :-)

Infelizmente, a epopeia não terminou aqui…

O processo de migração foi, ao contrário do que esperava, muito rápido e simples. Bastou uma chamada, um contrato assinado e digitalizado e lá estava eu a caminho de um novo fornecedor de eletricidade e gás.

No início, não tendo muito tempo para me dedicar ao assunto, deixei as primeiras faturas chegarem e paguei-as sem grande preocupação. Só após receber a terceira fatura é que, por descargo de consciência, resolvi voltar ao tema e saber se realmente estava a poupar na minha fatura de eletricidade.

Voltei à guerra da análise de faturas! Apesar do template ser diferente, a confusão de números é a mesma:


Após me dar ao trabalho de passar tudo para uma folha de Excel, assim que calculei o custo por kWh para os diferentes períodos horários, eis que reparei que pagava 0,2138€ -10% = 0,19242€ / kWh! Isso não é a tarifa mais barata do mercado, aliás, longe disso.

Indignado, entro em contacto com o fornecedor, o qual prontamente me informa que estas eram as condições base do tarifário no momento de adesão – as quais eram radicalmente diferentes do tarifário apresentado na ERSE. Como vim a verificar: 

«cada fornecedor de eletricidade ou gás pode alterar os preços de eletricidade sem aviso prévio»

Resumindo, apenas após ter enviado um email a solicitar a correção dos valores e adesão ao mesmo tarifário, mas com os preços atualizados, é que finalmente vi o valor real pago a diminuir: 

Como resultado desta análise, consegui baixar os preços da energia, em pontas, de 0,2138 (-10%) para 0,1743 (-10%) – uma redução de 22%!!!

E foi assim, após esta aventura de faturas, emails e números, que se surgiu a ideia do Payper (www.payper.pt) – um serviço gratuito, totalmente dirigido aos clientes finais, que facilite a navegação e a escolha do melhor e mais barato fornecedor de serviços para a casa ou escritório.

O objetivo do Payper (www.payper.pt) é, não só permitir escolher o melhor tarifário disponível no mercado, semelhante ao atualmente disponibilizado pela ERSE, mas em facilitar o utilizador a extrair toda a informação necessária das faturas de eletricidade, gás, água e, futuramente, telecomunicações.

Adicionalmente, e não menos importante, é um serviço que guia e avisa o utilizador sempre que os preços “efetivos e após descontos” pagos variam ou caso existam ofertas no mercado mais vantajosas.

Só assim podemos ter um mercado livre e transparente!

António Pereira

Comentários